terça-feira, 2 de outubro de 2012

Uma história antiga

Imagino Adão andando de um lado para o outro, desesperado, sem saber o que é apropriado pensar, ele teme até seus pensamentos, o que ele fez foi grave demais, não existe possibilidade alguma de voltar atrás, ele quebrou o elo mais sublime que fora estabelecido entre ele e o Autor da Existência. Então ele tenta se aconchegar na sombra de uma velha árvore amiga e mesmo a árvore sente por ele repugnância, isso aumenta ainda mais sua consternação, ele se levanta ainda abatido, busca consolo entre os animais e também esses o rejeita, ele olha para o céu e até o firmamento se encolhe envergonhado da atitude de seu primeiro amigo humano. Percebe-se desde então que a abóbada celeste sempre acorda um pouco entristecida, e ao olhar a relva podemos concluir que o céu passou toda a noite ou boa parte dela lamentando o acontecido e tem sido assim até nossos dias, as gotículas de lágrimas são visíveis a cada manhã não restando quaisquer dúvidas de seu choramin
gar noturno, mesmo tendo o sol como seu aliado, que logo cedo sempre acorda para tentar secar suas lágrimas o mais rapidamente possível, mesmo assim percebemos que o céu andou chorando por ter sido testemunha da maior de to
das as traições.

Quando se acorda bem cedo, os mais sensíveis conseguem ouvir seu soluço, mesmo que baixinho, sumindo por entre as nuvens que acaricia sua face na tentativa de esconder seu gemido pela maior de todas as vergonhas testemunhadas. Essa é a traição que quer ser a todo custo esquecida. Adão só quer esquecer, porque nunca mais poderá saber como teria sido, caso sua atitude tivesse sido outra, “nunca mais” é muito tempo quando o tempo é tudo que se tem para esquecer o que não pode ser esquecido. O que Adão perdeu não pode ser substituído, porque nada se compara a presença do Eterno, até o dia se despede quando Ele chega, o sol vai embora por não resistir à intensidade de Sua luz, as estrelas, convidadas de honra, espera a noite chegar, sentem-se constrangidas, porque elas sabem o que é brilho próprio e verdadeiro, a noite as encorajam, então de mãos dadas elas se posicionam em seus lugares.
O primeiro Adão quer ser esquecido por ter “comido”, o último Adão quer ser lembrado pelo “comer”, o que está em questão aqui não é o ato em si de “comer” e sim obedecer a uma ordem estabelecida, mesmo que não faça sentido a nossa racionalidade tem o poder de decidir onde passaremos a eternidade, é uma questão de “obediência”.
Adão “morreu” e trouxe a morte, Jesus morreu e trouxe a vida. Adão trouxe a maldição a todas as coisas ao morrer, Jesus reconciliou todas as coisas ao morrer.

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